RESUMO

 

 

PEIXOTO, Tiago da Cunha. Aspectos clínico-patológicos e laboratoriais da intoxicação experimental por monofluoroacetato de sódio em ovinos. 2010. 127p. Dissertação (Mestrado em Medicina Veterinária, Patologia Animal). Instituto de Veterinária, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica, RJ, 2010.

 

 

O monofluoracetato de sódio (MF) tem sido isolado de diversas plantas na África do Sul e na Austrália, bem como de três (Palicourea marcgravii, Arrabidaea bilabiata e, possivelmente, de Mascagnia rigida) das 12 plantas brasileiras que causam “morte súbita” (BSDCP) em bovinos. O MF bloqueia o ciclo de Krebs e a produção de ATP. A morte sobrevém pelo efeito mais intenso sobre o coração, SNC, ou ambos, dependendo da espécie animal intoxicada. Em 1959, Döbereiner e Tokarnia detectaram no rim de bovinos intoxicados por P. marcgravii, uma lesão por eles considerada típica para essa intoxicação, a degeneração hidrópico-vacuolar (DHV) dos túbulos uriníferos contornados distais associada à picnose nuclear. Mais tarde verificou-se que esse tipo de alteração também aparecia no rim de bovinos intoxicados com todas as outras BSDCP. O objetivo deste trabalho foi verificar se a ingestão de doses únicas e de frações diárias da dose letal de MF a seis ovinos induz a clássica DHV observada no rim de bovinos intoxicados por BSDCP, o que indicaria que esse composto é responsável pelas mortes dos animais que ingeriram essas plantas. O MF foi administrado, por via oral, em doses únicas de 0,5 e 1,0 mg/kg, cada dose para dois ovinos, e em doses subletais repetidas diariamente de 0,1 mg/kg/dia, por quatro dias, e 0,2 mg/kg/dia, por seis dias, cada dose para um ovino. Todos os ovinos que receberam o MF morreram, exceto um que recebeu 0,5 mg/kg e, não mostrou sintomas. A evolução da intoxicação variou de 3min a 33h:5min. Clinicamente os animais apresentaram taquicardia, respiração abdominal, tremores musculares, ligeira perda de equilíbrio, por vezes cambaleavam, deitavam e apoiavam a cabeça no flanco. Na fase final, os ovinos caíam em decúbito lateral, esticavam os membros, faziam movimentos de pedalagem, apresentavam opistótono e morriam. O exame ecocardiográfico evidenciou dilatação cardíaca e redução da fração de encurtamento sistólico. A análise dos níveis séricos de uréia e creatinina revelou moderada a acentuada azotemia. O MF provocou “morte súbita” em todos os ovinos que mostraram sintomas. À necropsia verificaram-se aurículas e veias jugulares, cavas, ázigos e pulmonares moderadamente ingurgitadas e, em alguns animais, edema pulmonar. O exame histopatológico revelou, em todos os animais, leve a acentuada DHV das células epiteliais dos túbulos contornados distais, associada à picnose nuclear. Adicionalmente, verificou-se discreta vacuolização e, por vezes, necrose de coagulação de hepatócitos. Não encontramos referências a esse tipo peculiar de lesão, à exceção das descrições sobre lesões renais associadas à ingestão de BSDCP e de recentes estudos em bovinos intoxicados com MF. De fato, DHV tem sido observada em animais que desenvolvem nefrose tubular tóxica aguda, porém, nestes casos, a alteração não está restrita aos túbulos distais e não cursa com picnose nuclear. Dessa forma, esse trabalho demonstra, em ovinos, que tanto doses letais únicas quanto subdoses diárias de MF induzem a DHV dos túbulos uriníferos contornados distais associada à picnose nuclear, o que confirma que essa substância é o princípio tóxico determinante da morte dos animais intoxicados por plantas brasileiras que causam “morte súbita”.

 

Palavras-chave: monofluoroacetato de sódio, patologia, ovino.